É comum vermos nas páginas dos jornais – principalmente nas segundas-feiras ou após feriados prolongados – notícias apontando o grande número de vítimas do trânsito. Diante desse cenário, precisamos refletir sobre as dimensões envolvidas nas ocorrências de trânsito e, a partir disso, buscar soluções para minimizar as consequências desse problema que envolve toda a sociedade.
Existem algumas dimensões envolvidas nas ocorrências de trânsito que pouco são discutidas. Quando falamos em trânsito não devemos pensar apenas no fluxo de automóveis, mas considerar, principalmente, que o trânsito é composto por todos nós. Devemos pensar no aspecto da mobilidade humana, pensar na livre circulação e no deslocamento com segurança, assim como nas relações sociais que se constituem nesse espaço. Ao se deslocar pelas ruas com automóveis particulares, bens privados, as pessoas, muitas vezes, não se dão conta de que estão se deslocando em um espaço público, com regras estabelecidas pelo Governo e pela própria sociedade. Competem entre si, de modo privado, por um espaço que é público e de todos.
Nesse contexto, o pedestre exerce papel ativo. Afinal, até podemos nunca atuar como motoristas, mas sempre seremos pedestres, já que circulamos nesse espaço urbano e público. Desse modo, o agente público deve trabalhar fortemente para auxiliar na educação do pedestre e investir em iniciativas que o conscientize sobre o sério papel que exerce na mobilidade urbana.
A falta de sinalizações, estradas precárias, equívocos de engenharia, aliados ao consumo de drogas e psicofármacos e a certeza de que não serão autuados, são outros elementos que também contribuem para ampliar o número de vítimas do trânsito.
Outro aspecto que precisa ser refletido pela sociedade diz respeito à influência que a propaganda de automóveis exerce sobre o comportamento dos cidadãos no trânsito. A dimensão mercadológica e a lógica empregada pela indústria automotiva para a venda de um veículo também podem estimular comportamentos agressivos, gerando uma confiança e uma “idéia fantasiosa” de que nada vai acontecer com aquele motorista. Isso reflete diretamente nos riscos do trânsito e nos próprios sinistros ocorridos.
Dirigir adequadamente vai além de ter habilitação, exige uma constante avaliação por parte de todos nós, que somos e fazemos parte do trânsito.
Sinara Tres Soares
Conselheira, Presidente da Comissão de Psicologia do Trânsito e Mobilidade Humana do CRPRS
Lucio Fernando Garcia
Coordenador Técnico do CRPRS e assessor da Comissão de Psicologia do Trânsito e Mobilidade Humana do CRPRS