Na quinta-feira, 29/05, a Comissão de Direitos Humanos promoveu o evento “Esquecer e Silenciar Jamais: Roda de Conversa com Vera Paiva” na sede do CRPRS em Porto Alegre. A importância da Psicologia problematizar essas questões foi destacada pela integrante da Comissão de Direitos Humanos do CRPRS, Mariana Allgayer, que conduziu a Roda de Conversa. “Precisamos fortalecer esse lugar da Psicologia, mais crítico e comprometido socialmente, por isso o tema ditadura e violência de Estado vem sendo trabalhado pela Comissão de Direitos Humanos neste ano”, afirmou Mariana.
Vera Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, é coordenadora da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia e professora do Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP. Trabalha com o tema Direitos Humanos desde sua juventude no Movimento Estudantil e participou da fundação do Comitê Brasileiro de Anistia.
Seu testemunho foi dado a partir do lugar de alguém que foi afetada pela ditadura e trabalhou com pessoas afetadas. “Ao cuidar do outro, estamos ajudando a curar nossas próprias feridas. A tortura nuca se apaga, mas lidar e superar o sofrimento torna-se mais fácil quando esse é compartilhado num ambiente acolhedor”.
A importância de se buscar informações e esclarecer fatos da história ainda não revelados foi destacado por Vera como algo fundamental para a concretização de uma efetiva democracia. “Minha família viveu nos últimos meses um conjunto de emoções que o Brasil precisa viver também. A negação e o esquecimento não fazem bem a ninguém. Lidar honestamente com as feridas, olhá-las de frente faz parte do processo e não podemos abrir mão disso”.
Manifestações de violência de Estado ainda presentes em nossa sociedade, como resquícios do período da ditadura, foram citadas por Vera. As mortes do pedreiro Amarildo, da auxiliar de serviços gerais Cláudia e do bailarino Douglas, no Rio de Janeiro, são exemplos de fatos que precisam ser esclarecidos e que a atuação policial precisa ser investigada. “Temos que acabar com a imagem de que os torturadores foram heróis e com essa cultura de que policial bom é aquele responsável pelo maior número de mortes”.
Para Vera, outro desafio de nossa sociedade atualmente é a compreensão do verdadeiro sentido dos direitos humanos. “A formulação de conceitos como ‘direitos humanos é direito para bandido’ foi disseminada por torturadores. É uma noção difícil de ser desmontada e há o interesse em fazer com que a sociedade mantenha esse discurso. Direitos Humanos é a base de qualquer ética e fundamental para qualquer profissão”.
Vera ressaltou a iniciativa do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul em abrir espaço para discutir o tema que integra um dos eixos de trabalho da Comissão Nacional de Direitos Humanos: "Enfrentamento da violência de Estado e da tortura". A Comissão pretende trabalhar na produção de políticas públicas de reparação psicológica na atenção e no cuidado aos afetados pela violência de Estado no Brasil.
Representando a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gabriela Weber Itaquy falou sobre as violências exercidas na época da ditadura civil-militar brasileira, o silenciamento e os resquícios gerados desse período. “Precisamos lutar contra o esquecimento, valorizar a memória, a verdade e a justiça, conhecer o que ficou como não dito. Convivemos com resquícios desse tempo principalmente com torturas e prisões de pessoas que vivem à margem da sociedade. Os bandidos de hoje são os subversivos do passado. Dessa forma, a violência se perpetua e atravessa a nossa história”. Gabriela pesquisa a questão da ditadura civil-militar no Brasil e é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS.