Dentro da programação das atividades on-line do Fórum Social das Resistências, o CRPRS promoveu na quarta-feira, 26/01, em parceria com a Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (AVICO) e com a Rede Covid-19 Humanidades, a roda de conversa “Para não esquecer: contando histórias e semeando lutas!”. Mediada pela conselheira do CRPRS Carla Tomasi, a roda foi marcada pela emoção e pela luta de todos os sobreviventes e enlutados da Covid-19. “Queremos compartilhar solidariedade, afeto e sofrimento”, destacou Carla na abertura.
A atividade contou com a participação do escritor Fabrício Carpinejar que falou sobre o luto, tema de seu mais recente livro “Depois É Nunca", publicação produzida durante a pandemia. Para Carpinejar, a dor do luto é, geralmente, mal interpretada e estigmatizada. “Tratam o luto como se fosse uma doença, com um prazo para o fim. O luto é algo incurável, é para toda a vida, somos impelidos a aprender a conviver com essa dor”, afirmou o escritor destacando como a lembrança de quem morre fica para a vida inteira entre aqueles que conviveram com a pessoa.
Carla ressaltou que, no trabalho realizado pela AVICO, as/os profissionais da saúde escutam com frequência como o luto não é respeitado. “É uma dor que não vai passar. Cada um sabe de sua dor, vamos respeitar isso. Nessa pandemia, com as mortes se sobrepondo, diante do descaso e desrespeito com quem está vivo, com quem se foi, com quem sofre, precisamos resistir. Não vamos esquecer, seguiremos falando das pessoas que perdemos e que nos fazem falta”.
Na sequência, a presidenta da AVICO, Paola Falceta, lembrou como a Associação foi constituída, após a perda de sua mãe, em parceria com Gustavo Bernardes, sobrevivente grave da Covid. “O que me moveu? Uma revolta enorme, gigante”. A ineficiência e negligência do Estado diante das múltiplas consequências da pandemia da Covid-19 na vida dos brasileiros. Para Paola, somente a potência da mobilização social e o enfrentamento comunitário poderiam minimizar os diferentes impactos da pandemia no Brasil. A AVICO surgiu como um coletivo social que luta por justiça e memória às vítimas fatais e também pela garantia e acesso aos Direitos Humanos constitucionais dos sobreviventes da Covid-19. Hoje já reúne mais de 1.500 associadas/os. A necessidade de escuta de todos que procuravam a Associação foi logo percebida. Para isso, foi organizado um eixo de trabalho de apoio psicossocial. “Para além da ação civil pública e do controle social e da participação social que fazemos diariamente, criamos um espaço de solidariedade, de escuta de coletivo, de união dos sobreviventes e dos enlutados”.
Juliana Borges Segata, integrante da Rede Covid-19 Humanidades, falou sobre a organização desse movimento. A Rede produz pesquisas qualitativas que analisam o impacto da Covid-19 entre as/os profissionais de saúde e grupos vulneráveis em situação de isolamento social. O seu objetivo é subsidiar ações na resposta à pandemia no Brasil, que considerem de modo múltiplo e situado as suas implicações científicas, tecnológicas, sociais, políticas, históricas e culturais. “Sabemos que esse momento histórico que vivemos não se escreve somente por números, indicadores e repercussões epidemiológicas. Por isso, criamos, em parceria com a AVICO, iniciativas como o projeto "Histórias e(m) Movimento", espaço que reproduz a história de vida de quem permanece resistindo. Queremos compartilhar sentimentos coletivamente”. Logo após, a atriz Maura Souza fez a leitura de um desses textos selecionados para o projeto.
A conselheira do CRPRS, Miriam Alves, também participou da atividade ressaltando como a atuação da Psicologia, em diferentes contextos, precisou se reinventar diante da pandemia da Covid-19 e apresentou a publicação organizada pela Comissão de Processos Clínicos e Psicossociais do CRPRS “Gestos, Memórias e Narrativas da Escuta Clínica Permeada pela Tecnologia da Informação e da Comunicação". Miriam fez a leitura de sua carta, que integra a coletânea.
Contribuindo para a roda de conversa, Joaquina Roger Duarte, Luciana Oliveira, Dione Michels, Mônica Oliveira e Elisheva Moreira, que perderam familiares para a Covid-19, trouxeram seus relatos de luto, revolta e resistência, ressaltando a importância da organização de espaços como os proporcionados pela AVICO para acolher e compartilhar todos os sentimentos envolvidos diante dessas perdas.
Assista à roda de conversa na íntegra: